Vida sexual de Mussolini nas palavras da amante ciumenta
Lisbona, 2009-11-29
Hugo Coelho
"Sabes amor", começou o político italiano, "esta noite no teatro despi-te três vezes. Olhava para ti e na minha cabeça tirava-te a roupa e desejava-te como um louco...". As palavras impressas nos jornais italianos da semana passada podiam passar por mais uma transcrição das conversas de Silvio Berlusconi com uma das acompanhantes que revelaram ao mundo o que afirmam passar-se nas festas dadas pelo primeiro-ministro. Desta vez, porém, Il Cavaliere não tem culpa nem mérito no caso. A declaração apaixonada foi soprada ao ouvido de uma prostituta. Mas o homem que a disse chamava-se Benito Mussolini.
Estava-se então a 5 de Janeiro de 1938, o ditador fascista estava no auge do poder e na cama com a amante favorita. Clara Petacci escreveu a data e a frase no diário que esteve fechado durante 70 anos nos arquivos nacionais e agora foi libertado e tornado num livro.
Há décadas que Itália convive com suspeitas de corrupção na sua política. Mas em Abril deste ano, quando as festas de Berlusconi foram postas a nu nos jornais os italianos voltaram a ser confrontados com a vida pessoal de um líder.
Mussolini, já se sabia, apesar de baixo e calvo, tinha um certo apelo aos olhos das mulheres do seu tempo. E quando foi executado pelos comunistas, durante a sua tentativa de fuga para a Suíça em Abril de 1945, a amante Clara Petacci acompanhou-o na morte. No seu diário, escrito entre 1932 e 1938, esta dá voz ao insaciável ditador. A amante escreveu que para Mussolini era "inconcebível dormir com uma só mulher": "Houve um tempo em que tinha 14 e tomava três ou quatro por noite, uma atrás da outra... isso dá-te uma ideia da minha sexualidade".
Filha de um médico do Vaticano, Petacci tinha 20 anos quando conheceu Mussolini - na altura, com 49 anos, casado e pai de cinco filhos. Ela ia no carro quando o viu passar no Alfa Romeu vermelho e gritou à janela "Il Duce, Il Duce". Mussolini parou para falar com ela e convidou-a para ir ao Palazzo Venezia.
Conta-se que durante os primeiros anos viveram um amor platónico. Petacci casou e separou-se de um piloto antes de Mussolini fazer dela sua amante. Começava aí uma relação escaldante. "Eu agarro-o com força, ele beija-me, fazemos amor, furiosos, e os gritos dele parecem os de um animal ferido," escreveu Petacci. "Mordeu-me com tanta força no ombro que ficou a marca dos dentes".
Petacci era a mais ciumenta das centenas de mulheres que passaram pelos braços do ditador. Conta-se que o obrigava a telefonar, pelo menos, dez vezes por dia. Quando ele se atrasava, acusava-o de a estar trair. Em Abril de 1938, Petacci apanhou-o na cama com Alice de Fonseca Pallottelli e isso motivou uma discussão. "Está bem, eu fiz", admitiu. "Não a via desde o Natal. Apeteceu-me. Não é crime. Estive 12 minutos com ela". "24", corrigiu Petacci. "Está bem, 24 minutos, foi uma coisa rápida. Que importância tem? Foi como quando faço amor com a minha mulher. Ela é passado."
Noutras páginas o diário mostra mais que o lado íntimo do primeiro ditador fascista, o homem que marchou com os Camisas Negras sobre Roma. Mussolini reuniu-se com Adolf Hitler, líder da Alemanha nazi, depois da anexação dos sudetas, e contou a Petacci que o Fhürer era "simpático". "No coração, Hitler é um velho sentimentalista. Quando me viu tinha lágrimas nos olhos. Ele gosta mesmo de mim. Só que tem ataques de raiva".
Mais tarde Petacci escreve como Mussolini se sentia irritado por pensarem nele como seguidor de Hitler. "Eu sou racista desde 1921. Não percebo porque é que as pessoas pensam que o estou a imitar". As confissões provam como Petacci era a mulher mais importante da vida de Mussolini. Um dia, o ditador contou-lhe que tinha pena de morrer porque teria de deixá-la. "É terrível. Eu nasci para ti. E vou acabar ao teu lado."
Sete anos depois de estas palavras terem sido escritas, Mussolini e Petacci foram então executados. Juntos. Os seus cadáveres foram pendurados numa praça de Milão. A fotografia é uma das poucas deles os dois, lado a lado.